Em resposta a críticas por voto que absolveu de todas as acusações o
deputado João Paulo
Cunha (PT-SP), o ministro do Supremo Tribunal Federal Ricardo
Lewandowski afirmou
"não pautar suas decisões pela opinião pública".
Há quem possa ver na afirmação do revisor do processo a tese implícita
de que decisões
divergentes, como a do relator Joaquim Barbosa, seriam fruto de uma
indevida vênia aos
clamores populares, enquanto as similares, como a de José Dias Toffoli,
seriam fruto de
leitura meramente técnica. Como o que está em jogo é a percepção que os
brasileiros têm
do Poder Judiciário, é importante então perguntar: o que pauta a
opinião dos juízes da
mais alta corte do País?
A Lei. Essa é a resposta
imediata, a um tempo absolutamente correta e absolutamente
insuficiente. Porque a aplicação da lei não é um ato mecânico, tornado
neutro pela técnica
jurídica. Sobretudo em casos complexos como o que agora se apresenta,
judicar - isto é,
dizer o direito - é um ato de interpretação baseado em valores. Existem
valores além do
texto legal que pautam e compõem a interpretação dos juízes.
A opinião pública a que se
refere o ministro do Supremo - vale dizer, o sentimento
dominante entre o povo brasileiro - expressa alguns desses valores e
aponta para uma
convicção clara daquilo que significam moralidade pública, interesses
legítimos e práticas
escusas. Essa percepção não deve pautar, de modo absoluto, o voto dos
juízes, é certo,
porque não deve sobrepor-se à lei, como tampouco devem sobrepor-se à
lei interesses
particulares de grupos específicos. Assim, aceitar sem filtros as
reações populares poderia
implicar abandonar a isenção do Judiciário, o que não se deseja.
Por outro lado, tratá-las como manifestação irrelevante de uma massa
culturalmente
primária, facilmente manipulável, implicaria desprezar como elemento
importante para
as ponderações judiciais o senso de justiça do cidadão comum, o que
também não se
deseja. Esse cidadão comum, nunca é demais lembrar, é a razão de ser do
Legislativo, do
Executivo e também do Judiciário.
Artigo publicado no jornal Estadão em, disponível em http://www.estadao.com.br/noticias/impresso,o-que-pauta-a--opiniao-dos-juizes-,922507,0.htm
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